Monday 8 March 2010

O bullying é um fenómeno natural...

A violência, física ou psicológica, nas escolas sempre existiu e, sendo um reflexo da sociedade, sempre existirá. Antes de tomar quaisquer medidas para combater este fenómeno interessa compreender a sua natureza neste contexto. Todos teremos historias de bullying que podemos contar, seja por experiência própria seja por que nos contaram. Eu também tenho as minhas histórias, mas mais que a experiência pessoal quero também fundamentar os meus argumentos nas ciências sociais. São estas que terão a compreensão global da situação, que utilizam os métodos mais fiáveis para estudar o assunto, que buscam conclusões isentas, independentes de sentimentos de vingança. Passo a descrever a minha visão teórica, donde tiro a prática, com que enquadro o fenómeno em questão.
O que torna realmente complicado este fenómeno é o facto de a escola, enquanto estabelecimento de ensino e como responsável por seres mais jovens, organizar-se de maneira diferente e por vezes com muitas deficiências. A escola é responsável por manter a segurança e o bom convívio, mas os poderes e a missão que lhe estão atribuída é bem diferente ao é que é atribuído às diferentes autoridades que regulam a sociedade. Para impor ao aluno, mesmo apesar da tenra idade, o mesmo comportamento moral que se impõe ao cidadão é necessário que, por um lado, a estrutura da escola procure reflectir internamente a estrutura civil, por outro que se intensifique a educação civil como forma de preparar o aluno para se integrar na sociedade. Assim, exige-se uma politica de disciplina clara que sirva de referencia igual para todos e à vista de todos. Uma constituição, com direitos bem patentes, e um livro de regulamentos disciplinares onde as diferentes infracções e as suas penalizações são previstas. Que fiquem registados os casos de indisciplina e que se acabe com a visão que “andar à porrada” é brincadeira de crianças. No outro lado, como educação civil, procurem-se penalizações que ajudem os alunos a encontrar os valores sociais que ignoraram ou não conhecem. Em casos de “bullying”, não lhes tirem o subsidio escolar assim sem mais nem menos, que, não só não educa nada, como obrigará os pais a tirar os filhos da escola em muitas das situações. Primeiro, obrigue-se o aluno a repensar a infracção que foi feita aos valores defendidos pela tal constituição. Segundo, incentive-se uma penalização que envolva esses mesmos valores. Dêem aos alunos uma oportunidade de ganhar estes valores antes de passar a castigos mais pesados. Poderá ser por acções de carácter civil como limpar parte da escola ou organizar a biblioteca. Mas também poderá ser pela alteração do programa escolar daquele aluno em particular, obrigando-o, por exemplo, a ter disciplinas extra de carácter moral. A escola não pode existir só para o ensino técnico tem também de dotar o aluno para compreender a sociedade e a habilita-lo, e mesmo incentiva-lo, a participar nela. As aulas de história ou geografia não são apenas para preparar historiadores ou geógrafos, ainda que alguns o virão a ser, mas acima de tudo para ajudar o aluno a perceber a sociedade em que se insere. Ora, ajudar o aluno a perceber tal complexidade é responsabilidade que não se pode deixar apenas ao acto de memorizar uns quantos factos históricos e uns quantos dados estatísticos. Ajudem-no a por em prática aquilo que aprendeu, desde logo, no convívio escolar. Nada melhor que o desporto escolar para aplicar esses princípios. Não se ensine simplesmente a técnica mas acima de tudo as virtudes do desportivismo. Um “bully” poderá, por exemplo, ser obrigado a frequentar um desporto cujo treino ocorra todos os dias e onde se ensine a importância da colectividade. Não só perdia muito da energia para o “bullying” como passava a adquirir valores inerentes ao desporto.
A sociedade é violenta, logo também o são os alunos que crescem nela. Mas é na escola que se dá a grande oportunidade para influenciar esta tendência. Esta violência, não pode ser, nem ignorada nem simplesmente castigada. À escola exige-se mais. Que se usem as infracções como oportunidade educativa.
Lembro-me perfeitamente do terrível Lourenço da minha escola primária. Mais do que partir vidros e roubar bolas de futebol, era conhecido por ser um feroz combatente. Afastava-me normalmente dele e um dia veio para a minha beira brincar. Passado o nervosismo inicial achei-o um miúdo como os outros. O que dava ao “cigano” para se tornar tão violento não sei. Mas entre castigos e expulsões nunca ninguém procurou descobrir. Lembro-me perfeitamente da minha escola preparatória. Mais que a dor física, aquele soco no estômago feriu-me o orgulho, mas ainda bem que me seguraram porque o adversário era realmente mais corpulento. De resto só aparecia o funcionário quando já era para levar alguém ao hospital. Mas a coisa realmente piorou quando troquei para a minha escola secundária, mais perto de casa. Aí, a diferença de idades era bem mais alta. No nono ano colocaram-me na turma dos “repetentes”, sendo eu o “betinho” da turma fui inicialmente torturado até começar a fazer amigos entre eles que me defendiam. Lembro-me de ter respondido fisicamente a um “grandalhão” que sorriu e que me mostrou como me poderia simplesmente estrangular com o simples aperto de uma das suas mãos. E tinha razão, realmente podia, felizmente era um dos meus melhores amigos. Lembro-me de um colega, o André, que me costumava oferecer porrada. Não lhe respondia às provocações e nunca aconteceu nada. Um dia contei a um amigo que ficou espantado sobre a atitude do André pois este era o maior “santinho” à beira dos pais. E contou-me então como o André era espancado sempre que fazia algo de errado e realmente cheguei a ver uma série de pontapés que levou do pai. Não admira portanto que o André oferecesse o mesmo tratamento aos colegas de quem não gostava. De resto, quando crescemos, até nos tornamos amigos. Contaram-me a certa altura que a minha turma nem era das piores. Na do meu colega, alguém tinha atirado a cadeira ao “prof”. O aluno conhecia bem o carro do “prof” que não só teve medo de impor o respeito como ainda veio pedir desculpa ao aluno. Os poucos processos disciplinares eram reservados a casos muito graves que de resto até podiam ser respondidos pela polícia. Não interessava minimamente se o Professor tinha autoridade ou não. Pouco lhe valia quando lhe fizessem a “esperinha” fora da escola. Havia demasiado medo dos vários bairros sociais ali há volta. Muitas outras histórias ficam por contar. Não acredito que esta realidade escolar seja só minha ou só daquele tempo. Este tipo de situações passa-se por esse Portugal fora. Mais do que não haver recursos humanos não havia uma estrutura escolar prevista para combater a indisciplina. Cabia a cada professor que, isolado, quando queria, lá fazia o que podia.
É necessário criar uma estrutura escolar devidamente definida que combata o bullying e a indisciplina em geral. Que reflicta já a estrutura da sociedade que construímos, segundo os valores que apadrinhamos e que, colectivamente com pais e professores, accione com claridade os dispositivos educativos necessários para transformar a atitude do aluno. Não serve ignorar, não chega castigar, é preciso educar.

Sunday 7 March 2010

blog a nao perder

http://theportugueseeconomy.blogspot.com/

Um blog sobre a economia Portuguesa a nao perder. Era muito bom que houvesse mais iniciativas deste género.